Seja inserida em meio às aulas de Sociologia, Filosofia, Geografia ou História (ou mesmo em uma disciplina a ser criada), seja em cursos livres promovidos pela escola, seja em projetos maiores envolvendo toda a comunidade escolar com planejamento de longo prazo, seja através de parcerias com órgãos públicos, ONGs, instituições privadas ou movimentos e coletivos sociais, o fato constatado é a necessidade de uma Educação Política dentro das escolas.
Não é objetivo deste artigo constatar qual das possibilidades apontadas acima (ou ainda outras) seria o caminho mais efetivo para a implementação da Educação Política no âmbito escolar, mas o que podemos afirmar é que diversas dessas possibilidades podem funcionar muito bem e atender aos objetivos pretendidos.
Intento aqui apontar caminhos que com certeza não são os únicos, nem definitivos, mas que surgiram a partir de estudos acadêmicos, debates e prática.
( fonte: http://www.portalconscienciapolitica.com.br/educa%C3%A7%C3%A3o%20e%20politica/ )
1) A formação deve prezar por conteúdos básicos em relação ao Sistema Político Brasileiro, relacionando-o com a prática cotidiana e o contexto histórico-social
A gama de conteúdos que podem ser trabalhados no âmbito da Educação Política não é pequena. A própria diversidade de denominações diferentes encontradas na literatura (Educação para a cidadania, Educação para os direitos humanos, Educação para a democracia, entre outros) já demonstrada sugere essa amplitude. Todavia, diante de tantas possibilidades, não podemos prescindir do básico. Existe, sim, uma carência de conhecimento sobre o funcionamento e a estrutura do Sistema Político Brasileiro que afeta diretamente o modo de pensar do cidadão em relação à política, à maneira como vota e à maneira como vivencia a democracia.
Desta forma, propostas de Educação Política na escola precisam dar atenção a temas como: Noção Básica de Democracia; Conceito de Cidadania; História da Política (no Brasil e no mundo); Direitos e Deveres do Cidadão; Funções de cada um dos poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário); Funções de cada um dos cargos políticos; Responsabilidades específicas de cada nível federativo (municipal, estadual e federal); Processo legislativo (como se faz uma lei); Sistema Eleitoral; Mídia e Política; entre outros no mesmo sentido.
A lista acima surge como um apanhado geral de temas já utilizados em cursos descritos por pesquisadores em convergência com as percepções dos estudantes sobre o assunto. É essencial que estes conteúdos não sejam repassados na escola descolados da realidade. Há necessidade de que esses conhecimentos sejam mostrados em sua perspectiva prática, de modo a compreender como cada uma das instâncias e elementos do sistema político interferem e dialogam com o cotidiano.
Mais do que saber como funciona, os estudantes devem entender as notícias sobre política, conseguir identificar posicionamentos políticos sobre a própria estrutura do sistema político (e suas possíveis mudanças), assim como entender como funcionam as ferramentas proporcionadas pela democracia de forma que seja possível atuar e transformar a realidade que se relaciona diretamente com a organização e estrutura política presentes nos conceitos e descrições a serem estudados na Educação Política.
2) Apresentar a importância e o valor da Educação Política
A vivência em uma sociedade democrática pressupõe não só conhecimentos, mas também as práticas e valores necessários para o aprimoramento e manutenção da mesma. Essas práticas e valores estão diretamente ligados a propiciar processos formativos que lidem com o estudante sempre em relação com a sociedade, de modo a levar o indivíduo a se perceber como parte de um coletivo, uma comunidade, entendendo a sociedade a partir de bases marcadas por diferença e empatia. É preciso cultivar valores democráticos como o respeito às leis, o respeito aos bens públicos (acima do interesse privado), o respeito integral aos direitos humanos, a virtude do amor à igualdade na forma do reconhecimento de privilégios e o repúdio a estes, o acatamento da vontade da maioria legítima sem prescindir do respeito aos direitos das minorias, ética na política, desconstrução de preconceitos (sociais, políticos e em relação à própria política) e o estímulo e a valorização do cidadão participativo, que se aproxima da política e da democracia por diferentes formas.
A Educação Política para a democracia precisa extrapolar os conhecimentos objetivos e dar conta de atitudes, práticas e comportamentos que dizem respeito não só ao governante eleito como ao cidadão no cotidiano. O desenvolvimento dessa dimensão valorativa deve ser benéfico não só ao estudante que participa das atividades de formação política, como espalhar-se na sociedade a partir das reflexões e comportamentos destes frente à coletividade, contribuindo para a construção de uma consciência política mais madura e de uma vivência democrática que saia do papel e seja experienciada mais intensamente.
3) Escolas mais democráticas
Para educar para a democracia, é preciso que as instâncias e processos de participação saiam do campo da retórica e se efetivem na prática. Esse é um dos motivos pelos quais seria problemático simplesmente acrescentar conteúdos de política à ementa de algumas disciplinas sem a reflexão das práticas democráticas dentro da própria escola.
Falar de democracia em meio a estruturas fortemente autoritárias pode até mesmo afastar os estudantes do tema, dada tal incoerência. É necessário um esforço de diálogo constante entre os membros da comunidade escolar, de modo que os interesses e demandas dos estudantes (por mais que possam em alguns momentos se descolarem da realidade) sejam pelo menos discutidos e dialogados.
A própria escola pode incentivar a criação de conselhos de representantes de sala e auxiliar na elaboração de regulamentos construídos em conjunto para essas organizações. Também pode abrir espaço para avaliações e sugestões de regras e melhorias do ambiente e convívio escolar, promover fóruns de discussão para os problemas que a própria escola enfrenta, chamados os docentes, estudantes e comunidade escolar para discussão conjunta de soluções, entre outras formas de tornar o cotidiano escolar mais participativo.
4) É preciso incentivar a participação em grupos, coletivos e organizações de diferentes naturezas
A escola interessada na formação democrática é espaço de amplas possibilidades que podem criar e incentivar a participação em diversos tipos de grupos e atividades extracurriculares, como o desenvolvimento de projetos sociais, culturais e esportivos que incentivem vivências e conquistas coletivas por parte dos alunos. Ao fazer isso poderá valorizar mais estas vivências em oposição às atividades exclusivamente individuais, que, em tempo de individualismo exacerbado e afastamento da democracia, contribuem para a ausência de identificação com a coletividade e o sentimento de pertencimento à comunidade. Estes elementos têm papel fundamental para levar ao aumento da participação dos cidadãos e interesse pela política.
Mesmo que de maneira indireta e não tão objetiva quanto atividades de Educação Política, a formação desses grupos dentro da escola pode contribuir muito não só para a formação democrática, como também para aproximar os estudantes da própria instituição escolar, aumentando qualitativamente a percepção de sentido que eles trazem em relação à escola em que estudam.
5) Aproveitar a tecnologia como ferramenta complementar para a Educação Política
Muitas das informações sobre política que chegam aos estudantes atualmente são oriundsa da internet, sejam portais de notícias ou redes sociais. Ao invés de nos afastar desses espaços, é preciso trazer estas discussões para a sala de aula, fazendo-as dialogar com os conteúdos e dimensões valorativas presentes na educação democrática. Temos ainda o exemplo de vários portais de cidadania, ONGs e movimentos sociais online, inteiramente dedicados a esta formação, como é o caso do Politize!, um portal inteiramente voltando a Educação Política. Aproveitar estes materiais dentro da escola pode apresentar um potencial interessante por conta da motivação que pode ser criada nos alunos, além do contato diversificado com conteúdos de organizações sérias que prezam pela qualidade da democracia.
( fonte: http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/06/formacao-politica-para-politicos.html )
6) Começar cedo
A Educação Política em âmbito escolar pode ser pensada então como um processo que permeia todas as etapas da Educação desde a infância, e que dentro da escola faria parte de um projeto constantemente trabalhado, integrando toda a comunidade escolar.
Essa formação contemplaria não só o conhecimento das instituições, regras e ideias políticas e sociais, mas também as habilidades, os valores e as atitudes que são necessárias para a prática de uma boa cidadania na vida adulta, de modo a constituir um processo formativo que poderia ser construído desde os anos iniciais da escola através de projetos que fossem discutidos e vivenciados por toda a comunidade escolar, incluindo além de professores e alunos, as famílias e os moradores dos arredores, já que a construção do Letramento Político não deve se restringir aos muros da escola.
Ainda que possa começar cedo, resgato nossas discussões, registro o convite e a necessidade de que professores, coordenadores pedagógicos, diretores, alunos, comunidade escolar, governantes, formuladores de políticas públicas e intelectuais voltem os olhares para esta demanda, dadas as problemáticas que nossa sociedade atualmente enfrenta.